Por Maria Helena Bellini
Muito se tem falado sobre a população idosa em todos os cantos do mundo e um dos pontos em comum é que ela cresce a olhos vistos e, a cada ano, o envelhecimento é mais e mais longevo. Nesse processo, as limitações do corpo e a vulnerabilidade emocional são problemas fundamentais, aparecendo de diferentes formas e intensidade, dependendo da situação socioeconômica e da própria estrutura emocional do idoso.
Para falar sobre esse tema tão delicado, convidamos a psicanalista e psicóloga clínica, que atua em São Paulo e Sorocaba, mestre pela Faculdade de Educação da Unicamp, com especialização pela EHESS Paris, na França, e voluntária na Associação “Acorda Menina”, em Sorocaba, interior de São Paulo, onde atende exclusivamente a terceira idade, Deomara Cristina Damasceno Garcia, para nos ajudar a responder a essas questões.
Leia a entrevista exclusiva!
Portal: O que é depressão e quais são os principais sintomas? Como percebê-los?
Deomara Damasceno: Ser “velho” pode significar muitas vezes o sentimento de perda de potência, da beleza padronizada pela sociedade, do trabalho, da saúde, dos colegas. Ocorrem sinais de lentidão e decadência da memória, do juízo, da atenção e da percepção. Por isso percebemos a necessidade de muitos idosos evocar o passado. Diante das características da sociedade contemporânea: apelo ao excesso, ao consumo, o culto à beleza e à juventude; nota-se o distanciamento no campo do desejo e do prazer de viver dos idosos de hoje. Geralmente, a depressão aparece como uma resposta possível ao difícil trabalho de luto e está cada vez mais atrelada ao significante idoso, como se envelhecer ou tornar-se “velho” significasse necessariamente ficar depressivo. Nos idosos em depressão, o eu para não correr o risco de se deparar com as perdas, entristece – como uma baixa de energia psíquica, que implica em perda de prazer. Alguns deles morrem mais do desgosto de estar e sentirem-se velhos, e se apegam ao passado como forma de continuar a viver, enquanto outros se negam e camuflam-se com diversos métodos tentando dissimular a idade, utilizam-se de queixas exageradas para obter a compaixão ou adotam uma atitude conformista e de renúncia à espera da “vontade de Deus”. Meu enfoque de trabalho é o da Psicanálise, que tem como objeto de estudo o inconsciente, cuja forma de funcionar é bem diferente – ignora a lógica cronológica e temporal. No campo psicanalítico, esse sujeito referido no inconsciente não envelhece, assim como o desejo que se caracteriza por seu caráter indestrutível e independentemente da idade. Na entrada da velhice, o que geralmente ocorre é uma ruptura com o desejo e uma tendência a aspectos puramente negativos. A participação da família e a aceitação da sociedade em geral são de grande importância na transformação da vida de idosos que, com frequência, vivem a solidão, o estranhamento frente ao envelhecimento que leva à depressão. A depressão é um tipo de transtorno que pode ocorrer no processo de envelhecimento associado a problemas de saúde, com disfunção cognitiva, relacionados a fatores biológicos e psicossociais. As causas de depressão no idoso configuram-se dentro de um amplo conjunto no qual atuam fatores genéticos, eventos vitais, como luto, abandono e doenças incapacitantes, entre outros. O idoso que apresenta depressão apresenta humor deprimido, perda de interesse, prazer e energia reduzidos levando ao aumento da fadiga e atividade diminuída. Cansaço marcante após esforços leves, bem como dores musculares por todo o corpo, são sintomas muito comuns, bem como, concentração e atenção reduzidas, autoestima e autoconfiança reduzidas, ideias de culpa e inutilidade, visões desoladas e pessimistas do futuro; ideias ou atos autolesivos ou de suicídio, sono perturbado e apetite diminuído, além de falta de esperança e desespero.
Portal: Em quais situações ocorre e por quê?
Deomara Damasceno: A depressão é uma possível saída do idoso para a problemática do luto e de diferentes perdas significativas (aposentadoria, cônjuge, amigos, referencias sociais). Muitos desses idosos chegam ao consultório apresentando: tristeza, choro frequente, apatia, tédio e irritabilidade. Outros sintomas suscitam preocupação como desânimo, insônia, perda ou aumento do apetite, alterações cognitivas (déficit de atenção, de concentração e de memória, dificuldade de tomar decisões). Se o luto implica um trabalho de elaboração frente a uma perda significativa, na melancolia, não existe a possibilidade de simbolizar a perda, caracterizando-se por um desânimo intenso, onde cessa o interesse pelo mundo externo, há perda da capacidade de amar, inibição de toda produtividade, diminuição dos sentimentos de autoestima, uma expectativa de ser punido. O idoso melancólico representa seu eu como sendo desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível, impotente de desejar.
Portal: De que maneira a Psicanálise pode ajudar esse idoso?
Deomara Damasceno: Na Psicanálise, o papel do analista no atendimento aos idosos é importante no sentido de operar pela via da palavra. O analista ocupa o lugar daquele que pode auxiliar o idoso a resgatar o seu desejo, tornar-se desejante e disposto à vida, possibilitando ao sujeito assumir-se e sustentar a singularidade de seu desejo. Nesse momento, é importante a apresentação de alternativas para sua reintegração dentro de uma nova realidade, que pode ocorrer via exercícios físicos regulares, atividades de lazer, culturais e de participação na comunidade. Essas atividades podem proporcionar prazer, distração, aliviar as tensões e despertar a criatividade, contribuir para uma melhoria da saúde física e mental, além de reduzir os sintomas depressivos.
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Deomara Damasceno: O importante é ter em mente que a velhice traz novas oportunidades e experiências que eram inexistentes em outras idades. Trata-se de um processo constante e inacabado, em que o idoso deve ser o protagonista de sua própria história e de seus próprios desejos: desenvolver sua criatividade, autonomia e participação, possibilitando assim reinaugurar seu tempo de viver, proporcionando trocas com as outras gerações, principalmente, no restabelecimento de suas relações e na criação de outros vínculos… Quem sabe assim, poderiam reconhecerem-se como as árvores fortes e belas no processo de envelhecer.
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Nos vemos no próximo artigo!